martes, 17 de enero de 2012

saramago............................

Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

lunes, 16 de enero de 2012

Mario benedetti

Arco iris

A veces
por supuesto
usted sonríe
y no importa lo linda
o lo fea
lo vieja
o lo joven
lo mucho
o lo poco
que usted realmente
sea
sonríe
cual si fuese
una revelación
y su sonrisa anula
todas las anteriores
caducan al instante
sus rostros como máscaras
sus ojos duros
frágiles
como espejos en óvalo
su boca de morder
su mentón de capricho
sus pómulos fragantes
sus párpados
su miedo
sonríe
y usted nace
asume el mundo
mira
sin mirar
indefensa
desnuda
transparente
y a lo mejor
si la sonrisa viene
de muy
de muy adentro
usted puede llorar
sencillamente
sin desgarrarse
sin deseperarse
sin convocar la muerte
ni sentirse vacía
llorar
sólo llorar
entonces su sonrisa
si todavia existe
se vuelve un arco iris.

viernes, 6 de enero de 2012

Rêve éternel

O que se perdeu, o que dever-se-ia ter perdido,o que se conseguiu e satisfez por erro,o que amamos e perdemos e, após o perder, vimos,o amando pelo ter tido, que não o tínhamos amado;o que achávamos que pensávamos quando sentíamos;e o mar em tudo..lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a se agitar fino na praia, no decurso nocturno de meu passeio à orla do mar..

nous allons écrire un journal des heures mortes ... une brève histoire d'une vie frivole ... du prospère ? il viendra déjà ... un jour!

Ramón Piñeiro dixit:

“A existencia humana está guiada por un pulo de transcendencia que a
abrangue na súa totalidade, pois a actividade total das súas dimensións
está sempre encamiñada a saír da soidade orixinal, desa escura soidade
que case que non é máis que un puro latexo de vida individualizada."

jueves, 5 de enero de 2012

ter um sentido, um guião... uma frente-, Pessoa Pessoa


O mistério das coisas, Onde está?
Se aparecesse, ao menos,
para mostrar-nos que é mistério
que sabe disto o rio, que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais, que se eu?
Sempre que vejo as coisas
e penso no que os homens pensam delas,
rio com o fresco som do rio sobre a pedra.
O único sentido das coisas
é não fazer sentido oculto.
mais raro que todas as rarezas,
mais que os sonhos dos poetas
e os pensamentos dos filósofos,
é que as coisas sejam realmente o que parecem ser
e que não tenha nada que compreender.

Sim, isso é o único que aprenderam sozinhos meus sentidos:
as coisas não têm significação, têm existência.
as coisas são o único sentido oculto das coisas.

IX
Todos os dias descubro
a horrível realidade das coisas:
a cada coisa é o que é.
Que difícil isto é isto e dizer
quanto me alegra e me basta.
para ser completo existir é suficiente.

Escrevi muitos poemas.
Claro, tenho de escrever outros mais.
a cada poema meu diz o mesmo,
a cada poema meu é diferente,
a cada coisa é uma maneira diferente de dizer o mesmo.

Às vezes olho um pedra.
não penso que ela sente,
não me empenho na chamar irmã.
Gosto por ser de pedra,
gosto porque não sente,
gosto porque não tem de parentesco comigo.

Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena ter nascido
só por ouvir passar o vento.


Não se que pensarão os outros ao ler isto;
acho que tem de ser bom porque penso-o sem esforço;
penso-o sem pensar que outros me ouvem pensar,
o penso sem pensamentos,
o digo como o dizem as palavras.
Uma vez chamaram-me poeta materialista.
e eu me surpreendi: nunca habia pensado
que pudessem me dar este ou aquele nome.
nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valer meu.
o valer esta aí, em meus versos.
tudo isto é absolutamente independente de minha vontade. "