O mistério das coisas, Onde está?
Se aparecesse, ao menos,
para mostrar-nos que é mistério
que sabe disto o rio, que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais, que se eu?
Sempre que vejo as coisas
e penso no que os homens pensam delas,
rio com o fresco som do rio sobre a pedra.
O único sentido das coisas
é não fazer sentido oculto.
mais raro que todas as rarezas,
mais que os sonhos dos poetas
e os pensamentos dos filósofos,
é que as coisas sejam realmente o que parecem ser
e que não tenha nada que compreender.
Sim, isso é o único que aprenderam sozinhos meus sentidos:
as coisas não têm significação, têm existência.
as coisas são o único sentido oculto das coisas.
IX
Todos os dias descubro
a horrível realidade das coisas:
a cada coisa é o que é.
Que difícil isto é isto e dizer
quanto me alegra e me basta.
para ser completo existir é suficiente.
Escrevi muitos poemas.
Claro, tenho de escrever outros mais.
a cada poema meu diz o mesmo,
a cada poema meu é diferente,
a cada coisa é uma maneira diferente de dizer o mesmo.
Às vezes olho um pedra.
não penso que ela sente,
não me empenho na chamar irmã.
Gosto por ser de pedra,
gosto porque não sente,
gosto porque não tem de parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena ter nascido
só por ouvir passar o vento.
Não se que pensarão os outros ao ler isto;
acho que tem de ser bom porque penso-o sem esforço;
penso-o sem pensar que outros me ouvem pensar,
o penso sem pensamentos,
o digo como o dizem as palavras.
Uma vez chamaram-me poeta materialista.
e eu me surpreendi: nunca habia pensado
que pudessem me dar este ou aquele nome.
nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valer meu.
o valer esta aí, em meus versos.
tudo isto é absolutamente independente de minha vontade. "