domingo, 26 de febrero de 2012

Un cantar....

Yo amo a Jesús que nos dijo:
Cielo y tierra pasarán
Cuando cielo y tierra pasen
mi palabra quedará.
¿Cuál fue Jesús tu palabra?
¿Amor?, ¿perdón?, ¿caridad?
Todas tus palabras fueron
una palabra: Velad.
Como no sabéis la hora
En que os han de despertar,
Os despertarán dormidos
si no veláis; despertad.

viernes, 24 de febrero de 2012

saramago















ARTE POÉTICA

Vem de quê o poema? De quanto serve
A traçar a esquadria da semente:
Flor ou erva, floresta e fruto.
Mas avançar um pé não é fazer jornada,
Nem pintura será a cor que não se inscreve
Em acerto regoroso harmonia.
Amor, se o há, com pouco se conforma
Se, por lazeres de alma acompanhada,
Do corpo lhe bastar a presciência.

Não se esquece o poema, não se adia,
Se o corpo da palavra for moldado
Em ritmo, segurança e consciência.

Os poemas possíveis, 1966.

lunes, 13 de febrero de 2012

negra sombra de Rosalia...

Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.

Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.

Si cantan, es ti que cantas,
si choran, es ti que choras,
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.

En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.

miércoles, 8 de febrero de 2012

de Benedetti

Cobriram-no de afiches /de cartazes
de vozes nos muros
de agravios retroactivos
de honras a destempo
transformaram-no em peça de consumo
em memória trivial
em ontem sem volta
em raiva embalsamada
decidiram usá-lo como epilogo
como última thule da inocência vã
como anejo arquetipo de santo ou satanás
e quiçá resolveram que a única forma
de se desprender dele
ou deixá-lo ao garete
é esvaziá-lo de lume
convertê-lo num herói
de mármol ou de gesso
e portanto imóvel
ou melhor como mito
ou silueta ou fantasma
do passado calcado
no entanto os olhos incerrables do che
olham como se não pudessem não olhar
assombrados quizá de que o comando não entenda
que trinta anos depois segue brigando
doce e tenaz pela dita do homem

miércoles, 1 de febrero de 2012

LONGA NOITE DE PEDRA

O teito é de pedra.
De pedra son os muros
i as tebras.
De pedra o chan
i as reixas.
As portas,
as cadeas,
o aire,
as fenestras,
as olladas,
son de pedra.
Os corazós dos homes
que ao lonxe espreitan,
feitos están
tamén
de pedra.
I eu, morrendo
nesta longa noite
de pedra.

Sucede que às vezes traça a linha a longa noite de pedra

Sucede que às vezes traça a linha a longa pedra da noite
não terá tempo na noite que não me declarei num novo dia,
e esse dia novo virá e será mais próximo de tua chegada,
e em teu ser trazando a parte que me faltava,
renacerá por fim a árvore que abriga minha alma,
dando explicação a todas as coisas do mundo acontecidas;
cobrando sentido ao fim todo meu ser e todo o que me rodeia.