lunes, 26 de noviembre de 2012

demência

Iste é o ponto exacto das horas, no que me fico ao margem de todo, e transcorrem por mim a veleidade dos acontecimentos passados, e trás a linha do tempo disponho as cartas conclusas que concertan a solução perfeita dos destinos fináis dos caminhos da minha vida que se perdem e se enlaçam...e deixam ver de vez em quando uma brisa lonxana..E fico-me imóvel no canto de decidir se viver no presente ou reflexarme no passado esperando sin máis que alguém recupere a minha alma perdida...

lunes, 5 de noviembre de 2012

Saudade do meu...
saudade...
saudade da minha infância...
saudade...
saudade da brincadeira...
saudade...
do recreio,
saudade...
das desaveças, saudade
da merendinha...saudade
da escola, saudade,
Hoje, mudaron moitas coisas, e outra trajetória...imbativèl.
¡saudade!

miércoles, 24 de octubre de 2012


Explorando esses materiais na perspectiva do tempo, é possí-
vel recompor peça por peça as linhas principais do mosaico da sua
própria epopeia, do seu autorretrato moral, mas também das circunstâncias mais destacadas da sua vida.

martes, 26 de junio de 2012


Quando a imensidade das sombras
se acercar de mim promete que dirás
que fui com as aves matinais
pernoitar à boca das marés em busca
do sulco da lua pelas noites dentro.
Diz as coisas mais banais.
O que quiseres. Diz.
Nunca te faltam as palavras
para enganar as sombras.

Graça Pires


sábado, 12 de mayo de 2012

As palavras penetram o espaço e o tempo. 
Amadurecem em papel de seda,
manipulando a cor, ateando o silêncio,
incendiando as cinzas, anunciando a luz.
As palavras andam por aí
como se fosse a vez primeira:
solitariamente manejando a noite.
E desnudam-me. Dançam no meu corpo.
Cobrem-no de malícia.
Tatuam em minha testa o tom das tangerinas
para que o seu sumo me escorra pela cara até à boca.

Graça Pires

domingo, 29 de abril de 2012

«Ah, tudo é símbolo e analogia!
O vento que passa, a noite que esfria
São outra cousa que a noite e o vento —
Sombras de vida e de pensamento.
Tudo que vemos é outra cousa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
É o eco de outra maré que está
Onde é real o mundo que há.
Tudo que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento
São sombras de mãos cujos gestos são
A ilusão mãe desta ilusão.

                             
Tudo transcende tudo
E é mais real e menos do que é. »



jueves, 26 de abril de 2012

Eu, velida, non dormia,
lelia doura,
e meu amigo venia*,
edoi lelia doura!

Non dormía e cuidava,
lelia doura,
e meu amigo chegava,
edoi lelia doura!

E meu amigo venia,
lelia doura,
e d'amor tan ben dizia,
edoi lelia doura!

E meu amigo chegava,
lelia doura,
e d'amor tan ben cantava,
edoi lelia doura!

Muito desejei amigo,
lelia doura
que vos tevesse comigo,
edoi lelia doura!

Muito desejei amado,
lelia doura,
que vos tevesse a meu lado,
edoi lelia doura!

Leli leli, par Deus, leli,
lelia doura,
ben sei eu quen non diz leli,
edoi lelia doura!

Ben sei eu quen non diz leli,
lelia doura,
demo x'é quen non diz lelia,
edoi lelia doura..


Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina
e a alegria aviva-se em redonda ressonância.
O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível
que reconhece e inventa a pluralidade delicada.
Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios.

Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo
da coisa nomeada. O rosto da terra se renova.
Ela aflui em círculos desagregando, construindo.
Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua.
Sobre si enrola o anel nupcial do universo.

O gérmen amadurece no seu corpo nascente.
Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo.
Move-se aqui e agora entre contornos vivos.
Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo.
Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano.


António Ramos Rosa
in Volante Verde





Teresa Cunha, Um Dia
Um dia
vou dizer-te,
a versão eloquente
de quem fomos,

…dizer-te
dum pretérito simples,
e do futuro condicional
incerto.

Leremos livros
de odores ligeiros
saboreando chás
de sabores diversos,

Diremos poemas
inventaremos núpcias
juraremos juras
e cantaremos versos,

Descobriremos portos,
barcos, travessias,
tormentas brancas
e algumas calmarias…

Tudo isto amor,
e nada mais,
brandos e contemplativos,

eu prometo,

…um dia

(Bósnia 1998)

Tornaste-te diáfana por esses dias, José Rui Teixeira


Tornaste-te diáfana por esses dias,
incendiavas a realidade só de olhá-la
com força e eu assistia redimido à multiplicação
de pães e peixes no silêncio circunscrito
do teu corpo. Sustinha a respiração
sobre as espáduas e o meu pensamento
era uma língua de fogo. Os espelhos
sobrepostos na margen do grande rio,
a omissão do teu nome como uma máscara
ou a antecámara de um sepulcro vazio.

miércoles, 25 de abril de 2012



Inclua no seu amor um pouco de desespero
derrame seu potencial de drama nos tapetes
ponha sal nas frutas ácidas
tente um pouco de champagne no sapato
esparrame de preguiça pelos linhos
no espalhafatoso desleixo dos lençóis
use olhos cristalizados, cintilantes
com faíscas no meio das plumagens
aprenda a cantar e a cabriolar um pouco
a dança elástica de uma enguia
se esfregue nas nervuras, descubra trunfos
muito escorregadia
Saiba o zodíaco chinês e as manchas do demônio
conhecedora de alquimias
deguste seus horrores em rituais estranhos
Seja uma ameaça
Dê telefonemas interurbanos em meio à noite
a Angkor, Himalaia, Terra do Fogo
Estilhace as regras desse jogo
que um pouco de maldade é necessária
Libidinosa sempre entre parênteses
esguiche todo esse seu som de dentro
ensopada de paixão e de água fria
leviana até a última mordida
Esquiva como uma taturana
penetrando no gargalo da garrafa
estenda suas estrias até o limite da suspeita
pois não há nada como um crime atrás do outro.
***
(Bruna Lombardi)

viernes, 30 de marzo de 2012

dame dame que me das?

Dame calma, dame vida, dame alma,
Dame paciência, dame aguente, dame resginación
Dame mimo, dame consciencia, dame amor,
Dame frio, dame margen, dame intuito
Dame ar, dame ânimo, dame ilusão...
Dame todo.

bicos beixos beijos

Dame um beijo de canela,
dame um beijo de todos os sabores,
que tenha cores e
que arrecenda a lavanda e a menta,
que soe como uma melodia
que inunde toda a minha cabeça
abrumando os sentidos,
elevando as sensações a extremos insospeitados
que trema ate saber que esse é o limite humano
ficarei compracida

Borbulha

Ali longe onde ninguém pode chegar, ali longe onde o silêncio pesa mais que a palavra..ali longe onde não existe a tristeza nem a miséria, não há desigualdade, ali longe donde ficam retidos os pesadelos em borbullas que oscilam ao são do mar, ali longe onde uma posta de sol dura uma eternidade, onde um sorriso fica gravado na memória, ali longe onde o tempo não passa e as coisas carecem de importância...ali é longe, e é para onde vou.

lunes, 26 de marzo de 2012

fernando pessoa

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perço-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.



domingo, 26 de febrero de 2012

Un cantar....

Yo amo a Jesús que nos dijo:
Cielo y tierra pasarán
Cuando cielo y tierra pasen
mi palabra quedará.
¿Cuál fue Jesús tu palabra?
¿Amor?, ¿perdón?, ¿caridad?
Todas tus palabras fueron
una palabra: Velad.
Como no sabéis la hora
En que os han de despertar,
Os despertarán dormidos
si no veláis; despertad.

viernes, 24 de febrero de 2012

saramago















ARTE POÉTICA

Vem de quê o poema? De quanto serve
A traçar a esquadria da semente:
Flor ou erva, floresta e fruto.
Mas avançar um pé não é fazer jornada,
Nem pintura será a cor que não se inscreve
Em acerto regoroso harmonia.
Amor, se o há, com pouco se conforma
Se, por lazeres de alma acompanhada,
Do corpo lhe bastar a presciência.

Não se esquece o poema, não se adia,
Se o corpo da palavra for moldado
Em ritmo, segurança e consciência.

Os poemas possíveis, 1966.

lunes, 13 de febrero de 2012

negra sombra de Rosalia...

Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.

Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.

Si cantan, es ti que cantas,
si choran, es ti que choras,
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.

En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.

miércoles, 8 de febrero de 2012

de Benedetti

Cobriram-no de afiches /de cartazes
de vozes nos muros
de agravios retroactivos
de honras a destempo
transformaram-no em peça de consumo
em memória trivial
em ontem sem volta
em raiva embalsamada
decidiram usá-lo como epilogo
como última thule da inocência vã
como anejo arquetipo de santo ou satanás
e quiçá resolveram que a única forma
de se desprender dele
ou deixá-lo ao garete
é esvaziá-lo de lume
convertê-lo num herói
de mármol ou de gesso
e portanto imóvel
ou melhor como mito
ou silueta ou fantasma
do passado calcado
no entanto os olhos incerrables do che
olham como se não pudessem não olhar
assombrados quizá de que o comando não entenda
que trinta anos depois segue brigando
doce e tenaz pela dita do homem

miércoles, 1 de febrero de 2012

LONGA NOITE DE PEDRA

O teito é de pedra.
De pedra son os muros
i as tebras.
De pedra o chan
i as reixas.
As portas,
as cadeas,
o aire,
as fenestras,
as olladas,
son de pedra.
Os corazós dos homes
que ao lonxe espreitan,
feitos están
tamén
de pedra.
I eu, morrendo
nesta longa noite
de pedra.

Sucede que às vezes traça a linha a longa noite de pedra

Sucede que às vezes traça a linha a longa pedra da noite
não terá tempo na noite que não me declarei num novo dia,
e esse dia novo virá e será mais próximo de tua chegada,
e em teu ser trazando a parte que me faltava,
renacerá por fim a árvore que abriga minha alma,
dando explicação a todas as coisas do mundo acontecidas;
cobrando sentido ao fim todo meu ser e todo o que me rodeia.

martes, 17 de enero de 2012

saramago............................

Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

lunes, 16 de enero de 2012

Mario benedetti

Arco iris

A veces
por supuesto
usted sonríe
y no importa lo linda
o lo fea
lo vieja
o lo joven
lo mucho
o lo poco
que usted realmente
sea
sonríe
cual si fuese
una revelación
y su sonrisa anula
todas las anteriores
caducan al instante
sus rostros como máscaras
sus ojos duros
frágiles
como espejos en óvalo
su boca de morder
su mentón de capricho
sus pómulos fragantes
sus párpados
su miedo
sonríe
y usted nace
asume el mundo
mira
sin mirar
indefensa
desnuda
transparente
y a lo mejor
si la sonrisa viene
de muy
de muy adentro
usted puede llorar
sencillamente
sin desgarrarse
sin deseperarse
sin convocar la muerte
ni sentirse vacía
llorar
sólo llorar
entonces su sonrisa
si todavia existe
se vuelve un arco iris.

viernes, 6 de enero de 2012

Rêve éternel

O que se perdeu, o que dever-se-ia ter perdido,o que se conseguiu e satisfez por erro,o que amamos e perdemos e, após o perder, vimos,o amando pelo ter tido, que não o tínhamos amado;o que achávamos que pensávamos quando sentíamos;e o mar em tudo..lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a se agitar fino na praia, no decurso nocturno de meu passeio à orla do mar..

nous allons écrire un journal des heures mortes ... une brève histoire d'une vie frivole ... du prospère ? il viendra déjà ... un jour!

Ramón Piñeiro dixit:

“A existencia humana está guiada por un pulo de transcendencia que a
abrangue na súa totalidade, pois a actividade total das súas dimensións
está sempre encamiñada a saír da soidade orixinal, desa escura soidade
que case que non é máis que un puro latexo de vida individualizada."

jueves, 5 de enero de 2012

ter um sentido, um guião... uma frente-, Pessoa Pessoa


O mistério das coisas, Onde está?
Se aparecesse, ao menos,
para mostrar-nos que é mistério
que sabe disto o rio, que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais, que se eu?
Sempre que vejo as coisas
e penso no que os homens pensam delas,
rio com o fresco som do rio sobre a pedra.
O único sentido das coisas
é não fazer sentido oculto.
mais raro que todas as rarezas,
mais que os sonhos dos poetas
e os pensamentos dos filósofos,
é que as coisas sejam realmente o que parecem ser
e que não tenha nada que compreender.

Sim, isso é o único que aprenderam sozinhos meus sentidos:
as coisas não têm significação, têm existência.
as coisas são o único sentido oculto das coisas.

IX
Todos os dias descubro
a horrível realidade das coisas:
a cada coisa é o que é.
Que difícil isto é isto e dizer
quanto me alegra e me basta.
para ser completo existir é suficiente.

Escrevi muitos poemas.
Claro, tenho de escrever outros mais.
a cada poema meu diz o mesmo,
a cada poema meu é diferente,
a cada coisa é uma maneira diferente de dizer o mesmo.

Às vezes olho um pedra.
não penso que ela sente,
não me empenho na chamar irmã.
Gosto por ser de pedra,
gosto porque não sente,
gosto porque não tem de parentesco comigo.

Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena ter nascido
só por ouvir passar o vento.


Não se que pensarão os outros ao ler isto;
acho que tem de ser bom porque penso-o sem esforço;
penso-o sem pensar que outros me ouvem pensar,
o penso sem pensamentos,
o digo como o dizem as palavras.
Uma vez chamaram-me poeta materialista.
e eu me surpreendi: nunca habia pensado
que pudessem me dar este ou aquele nome.
nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valer meu.
o valer esta aí, em meus versos.
tudo isto é absolutamente independente de minha vontade. "